A Ermida dedicada a Nossa Senhora do Livramento foi construída em 1740, com as esmolas dos devotos num local de onde se pode avistar a Serra da Arrábida, com vistas de cortar a respiração em todo o redor. [+ info]
A Ermida dedicada a Nossa Senhora do Livramento foi construída em 1740, com as esmolas dos devotos num local de onde se pode avistar a Serra da Arrábida, com vistas de cortar a respiração em todo o redor.
Segundo a tradição oral deste local avistam-se seis capelas (seis irmãs), sendo elas a Capela de Nossa Senhora da Penha (Grândola), Nossa Senhora do Rosário (Beja), Nossa Senhora do Monte (Santiago do Cacém), Nossa Senhora das Salas (Sines), Nossa Senhora da Cola (Ourique) e Nossa Senhora do Castelo (Aljustrel). Deste local também se avistam sete localidades acasteladas (Palmela, Santiago do Cacém, Sines, Beja, Alvito, Sesimbra e S. Filipe) e sete por acastelar (Vila Nova de Milfontes, Grândola, Ferreira do Alentejo, Cuba, Ourique, Aljustrel e Castro Verde).
Lenda do Livramento
Conta a lenda que, há muitos anos, existiu um jovem pastor que guardava o seu rebanho num monte situado a cerca de três quilómetros a norte da aldeia de S. Francisco da Serra. Certo dia, conversando com um pastor seu vizinho, este disse-lhe que o cabelo de uma cabra se podia transformar em cobra. E indicou-lhe a forma de o conseguir.
Cheio de curiosidade, o pastor pensou logo em fazer a experiência. Introduziu um cabelo de cabra num canudo de cana, e todos os dias lá deitava umas gotas de leite. Passado algum tempo aconteceu o que o pastor esperava: o cabelo tinha-se realmente transformado em cobra. Desde então o rapaz todos os dias ordenhava uma cabra para alimentar aquele animal por quem sentia muito carinho, visto ter-lhe dado vida.
A cobra foi crescendo e passou a andar em liberdade pelos matos da serra. Mas, bastava o pastor chamá-la por meio de um “assobio quadrado”, para ela, por mais longe que estivesse, “correr” imediatamente para o seu benfeitor, a fim de tomar a sua refeição de leite. Chegando à idade, o pastor teve de ir cumprir o seu serviço militar, deixando o seu rebanho e a amiga cobra que tinha criado.
Passado alguns anos, regressou à terra. Para matar saudades, foi passear para os sítios onde dantes tinha apascentado o seu rebanho. Levava um companheiro e contou-lhe o que tinha acontecido a respeito da cobra. Como é natural, o amigo duvidou desta história.
- Ah! Não acreditas? Então vais ver! Se ela andar por aqui perto, vai aparecer imediatamente. E soltou o costumado assobio. Ao ouvir o sinal, a cobra dirigiu-se para o local onde estavam os dois homens. Era um espetáculo medonho! O mato por onde o enorme réptil passava, tremia todo como se fosse agitado por um furacão.
A cobra, ao chegar à frente do pastor e verificando que este não tinha leite para lhe dar, tentou atacá-lo. Este disse para o amigo:
- Não temos nada com que nos defendamos, a não ser esta pequena vara que tenho na mão. Se Nossa Senhora me livrar, e eu for capaz de matar esta terrível serpente, mandarei aqui construir uma ermida que será dedicada a Nossa Senhora do Livramento. Dizendo isto, deu uma varada na cobra, que morreu instantaneamente.
Segundo a lenda, foi este facto que deu origem à ermida, cujas ruínas se veem no monte da Senhora do Livramento.
Antigamente era vulgar, quando se fundava uma igreja, principalmente num lugar isolado, a sua construção estava quase sempre ligada a um milagre, que por sua vez dava origem a uma lenda. Não admira, era o tempo dos “milagres”.
A única coisa que hoje temos a certeza é que existem as citadas ruínas, e o que se diz a seu respeito nos “Anais do Município”, facto a que nos referimos quando escrevemos sobre o passado da freguesia de S. Francisco da Serra.
Lenda recolhida por Prof. Manuel João da Silva, publicada em “Gentes e Culturas, caderno Temático n.º 3 – Freguesia de S. Francisco da Serra”, editado pela LASA – Liga dos Amigos de Santo André, em setembro de 2003.
O montado é um sistema agrossilvo-pastoril explorado a vários níveis – arbóreo, arbustivo e herbáceo – de acordo com as potencialidades de cada região.
O nível arbóreo pode ser constituído por carvalhos como o sobreiro (Quercus suber), a azinheira (Q. rotundifolia) e mais raramente o carvalho negral (Q. pyrenaica) e o carvalho cerquinho (Q. faginea), em povoamentos puros ou mistos com uma densidade variável. O sub-coberto é ocupado por pastagens aproveitadas pelo gado ou é cultivado com culturas arvenses de sequeiro num sistema de rotação. Os pastos naturais podem ser ocupados por matos, em maior ou menor proporção.
O Homem é tem sido sempre parte integrante e fundamental deste ecossistema. Foi através da sua acão arroteadora que foram sendo criados os montados, desde que começou a intervir no meio natural que o rodeava. A gestão do homem é necessária, numa forma mais ou menos intensiva, para a manutenção do montado. Sem esta intervenção o sistema evolui, naturalmente, para uma formação do tipo bosque, onde o Homem tem dificuldade em obter recursos.
Santiago do Cacém é, desde sempre, caracterizado pela importância do seu montado de sobro e azinho, sendo considerado um dos mais valiosos do país. Presentemente possui uma das maiores manchas florestais de sobreiros e das maiores do distrito de setúbal, ocupando cerca de 70% da área florestal do Município. As paisagens do montado desde sempre sofreram modificações, ainda mesmo antes de qualquer ação humana, a ação natural dos elementos operou transformações que criaram as realidades geográficas sobre as quais se implantaram as atividades humanas. No município de Santiago do Cacém são de especial importância as paisagens do montado de sobro e azinho, o sobreiral das encostas das Serras de Grândola e do Cercal do Alentejo, merecem, pela sua beleza, biodiversidade e importância socioeconómica, continuar a ser apreciadas e conservadas por todos.
O montado de sobro e azinho deve ser olhado pela sua importância geográfica no Município, pela sua importância socioeconómica, biofísica, faunística, florística e, também, pela tradição e importância dos sistemas agrossilvo-pastoris na região mediterrânica.
Os sobreirais das encostas da serra são um tipo de paisagem caracterizador da região de Santiago do Cacém. As Serras de Grândola e do Cercal do Alentejo estendem-se na direção norte-sul e surgem como ilhas de relevo que fazem a transição entre a planície litoral e a planície cerealífera do interior e que devido à proximidade do mar cria condições ecológicas específicas. O seu clima de influência atlântica é mais moderado e devido às diferenças de temperatura e precipitação a vegetação apresenta características próprias.
Ao nível turístico uma das apostas do Município prende-se com o aproveitamento dos espaços arborizados e a sua ligação próxima ao turismo em espaço rural, ao agroturismo, ao ecoturismo, a áreas transversalmente importantes como a gastronomia, a cinegética e o artesanato, através da valorização económica do território a par do desenvolvimento sustentável dos recursos endógenos, estratégia mais eficaz do que a simples aplicação de medidas estritas de conservação das espécies e dos habitats, reunidas sob o chapéu duma ótica de engenharia turística em defesa das populações locais.
ROTA DO MONTADO DE SOBRO E CORTIÇA
O município de Santiago do Cacém faz parte da Rota do Montado de Sobro e Cortiça, no âmbito da parceria com o Município de Coruche e com o Observatório do Sobreiro e da Cortiça.
O montado de sobro é um dos ecossistemas mais ricos do mundo e no Concelho a mancha florestal de sobreiro é atualmente de cerca de 70% da sua área, sendo por isso, considerado uma das mais valiosas do país.
O montado, pela importância económica e sociocultural que possui, representa uma realidade à qual o município de Santiago do Cacém tem dado bastante destaque, nomeadamente, na ligação próxima ao turismo, nas suas mais variadas vertentes, mas também pela sua importância a nível da biodiversidade e na promoção das atividades tradicionais ligadas a este tema.
Uma das atividades mais singulares associada ao sobreiro, também designado popularmente por chaparro, é o descortiçamento. Este é um método manual ancestral de extrair a cortiça dos sobreiros, que requer mãos experientes e muito cautelosas para não danificar a árvore, sendo desta forma que se inicia o ciclo de vida da cortiça enquanto matéria prima.
O município de Santiago do Cacém é, e assim pretende continuar a ser, um defensor da cultura do sobreiro e do montado, pelo que considera que descobrir a Rota de Montado de Sobro, em Santiago do Cacém, é partir ao encontro de um património natural extenso, de paisagens únicas, de cores múltiplas … enfim … de estórias e de gentes.
Santiago do Cacém é um dos promotores da candidatura do montado a Património da Humanidade, mas é também um dos parceiros para a execução das cartas do Património Cultural e do Património Natural do Litoral Alentejano nas quais o montado tem igualmente lugar destacado.
O município de Santiago do Cacém é, e assim pretende continuar, um defensor da cultura do sobreiro e do montado seja na promoção do seu cultivo seja na criação de condições para o estudo, defesa, classificação e promoção das atividades a eles associadas.
Animais
Como a estrutura do montado varia muito, com zonas de grande densidade de arvoredo que se intercalam com áreas mais abertas de vegetação rasteira, como pastagens, culturas ou mato, ele permite a ocorrência de uma grande variedade de fauna. Podemos encontrar aves, como o búteo, o chapim real e azul, o gaio o rouxinol bravo, a coruja-do-mato, o pica-pau-malhado. Entre os répteis, é bastante comum o sardão, a lagartixa-do-mato ou a cobra-rateira. Dependendo das condições do solo e de humidade, assim como da formação de charcos temporários, também se podem encontrar anfíbios. Os mais comuns são a rã de focinho pontiagudo (discoglossus galganoi), a rã verde (Pelophylax perezi) e a salamandra de fogo (Salamandra salamandra). Quanto aos mamíferos, são comuns a lebre, o coelho, a raposa, a geneta, o javali ou o sacarrabos.